Campanha alerta para a violência contra idosos e reforça a importância do cuidado, da escuta e da valorização da pessoa idosa em todas as fases da vida
15 de junho é o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa – uma data que reforça um alerta necessário: a violência contra pessoas com 60 anos ou mais é real, grave e crescente. No Brasil, apenas nos três primeiros meses de 2024, mais de 42 mil denúncias foram registradas pela Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. É um número alarmante — e que ainda pode ser subestimado, já que muitas violações sequer chegam ao conhecimento das autoridades.
Na zona norte de São Paulo, o Ambulatório Médico de Especialidades Centro de Referência do Idoso (AME CRI Norte), é sinônimo de cuidado, saúde e acolhimento. Localizado dentro do Complexo Hospitalar do Mandaqui, a unidade mantém um serviço especializado para a saúde do idoso e também um cuidado especial com saúde mental e autonomia de homens e mulheres na terceira idade. O AME CRI Norte é administrado pela Sociedade Brasileira Caminho de Damasco (SBCD), em parceria com o Governo do Estado de São Paulo e a Secretaria Estadual de Saúde.c
Em conversa com Andréia Magalhães, coordenadora do Serviço Social, e Yasmin Granger Sabugari, assistente social, ambas com atuação no AME CRI Norte, destacaram a importância do mês de junho para a conscientização da violência contra a pessoa idosa e, principalmente, formas de identificar abusos e violências cometidas.
Violência contra idosos: tipos e sinais de alerta
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a violência contra a pessoa idosa em diferentes tipos: física, psicológica, financeira, sexual, negligência e abandono. Todos esses tipos podem ocorrer tanto em ambientes domésticos quanto institucionais. Yasmin alerta para os principais sinais que merecem atenção:
- Comportamentais/emocionais: tristeza, isolamento, mudanças de humor, medo ou silêncio na presença de cuidadores.
- Financeiros: dívidas inesperadas, desaparecimento de dinheiro, controle abusivo dos bens por terceiros.
- Negligência: recusa ou omissão de cuidados essenciais, como higiene, alimentação, medicamentos ou consultas médicas.
“O silêncio muitas vezes é o maior grito por ajuda. Precisamos estar atentos às mudanças no comportamento, principalmente em idosos que vivem isolados ou dependem de cuidadores”, enfatiza Andréia.
Como o AME CRI Norte combate à violência contra idosos
Desde 2012, o AME CRI Norte desenvolve um Programa de Enfrentamento à Violência Contra a Pessoa Idosa, que integra o Núcleo de Prevenção à Violência (NPV). A equipe multidisciplinar da unidade atua de forma coordenada para acolher, identificar e encaminhar casos. O fluxo de atendimento segue etapas bem definidas:
- Acolhimento inicial – escuta qualificada e identificação da suspeita de violência;
- Notificação – preenchimento da Ficha de Notificação Compulsória (SINAN);
- Plano Terapêutico Singular – construção de estratégias personalizadas com foco na proteção e no cuidado;
- Encaminhamentos – articulação com serviços de saúde, assistência social e órgãos competentes.
“As reuniões mensais do NPV são fundamentais para o alinhamento da equipe e para a discussão dos casos mais complexos. É um trabalho contínuo e humano”, relata Yasmin.
Onde e como denunciar?
A violência contra a pessoa idosa é crime. E qualquer pessoa pode — e deve — denunciar. Existem diversos canais disponíveis:
- Disque 100 (Direitos Humanos) – anônimo, gratuito, funciona 24h
- Delegacias de Polícia – inclusive delegacias do idoso, onde houver
- CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social
- Conselhos do Idoso – municipais ou estaduais
- Ministério Público – mediante envio de relatório técnico
A denúncia pode ser feita de forma anônima e é tratada com total sigilo. O importante é romper o silêncio e garantir a proteção desse idoso.
O perigo do isolamento social
Além das agressões diretas, o isolamento social é um dos fatores de risco mais críticos para os idosos. Sem visitas, contatos ou redes de apoio, aumentam os casos de violência oculta, autonegligência e problemas de saúde física e mental. “O idoso que está sozinho fica mais vulnerável. Ele pode parar de se alimentar, tomar remédios ou não procurar ajuda mesmo em situações graves. A solidão o enfraquece, tanto emocional quanto fisicamente”, afirma a coordenadora do Serviço Social. Impactos do isolamento:
- Saúde mental: depressão, ansiedade, tristeza, sensação de abandono
- Saúde física: agravamento de doenças crônicas, insônia, perda de apetite e mobilidade
- Qualidade de vida: baixa autoestima, desmotivação e sentimento de inutilidade
Centro de Convivência: fortalecendo vínculos e autonomia
Para enfrentar o isolamento e promover a saúde integral, o AME CRI Norte mantém mais de 100 oficinas regulares, que incluem artesanato, ginástica, crochê, pintura em tela, voleibol, oficina de smartphone, entre outras. “No Centro de Convivência, que atua com base nos quatro pilares do envelhecimento ativo, é emocionante ver como os idosos se transformam com as atividades. Eles voltam a sorrir, a se sentir úteis e pertencentes à comunidade”, cita Yasmim, assistente social.
Envelhecer não é sinônimo de fragilidade
Ainda há na sociedade o mito de que envelhecer significa adoecer, se tornar dependente ou improdutivo. É preciso desconstruir essa visão. “Muitos idosos mantêm sua autonomia, cuidam da própria vida e participam ativamente de tudo. O envelhecimento é um processo único e precisa ser valorizado com dignidade”, explica Ana Paula Maeda de Freitas, gerente assistencial do AME CRI Norte. “A sociedade como um todo precisa promover um novo olhar sobre o envelhecimento: valorizando capacidades, não limitações”, complementa Ana.
Junho Violeta é mais do que uma campanha: é um chamado à empatia, à ação e à construção de uma cultura de cuidado. Acolher, proteger e respeitar a pessoa idosa é compromisso de todos nós.
Semana de Conscientização no AME CRI Norte
O AME CRI Norte promove, entre os dias 9 e 13 de junho, a Semana de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa. A programação inclui ações voltadas aos colaboradores e ao público atendido, com o objetivo de ampliar a reflexão e o cuidado com a população idosa. No dia 9, às 9h, haverá a entrega de folders informativos e laços alusivos à causa. No dia 11, às 14h, será exibido o filme Eu Me Importo no Cine CRI Especial, na Sala Orquídea, com inscrições abertas no setor de agendamento. O encerramento acontece no dia 13, às 8h30, com uma caminhada seguida de bate-papo sobre conscientização da violência contra a pessoa idosa.