Após ficar paraplégico, Josivaldo de Sousa reforça o papel do CER II em sua reabilitação

“Não se mexe!” foi a primeira frase que Josivaldo de Sousa ouviu do seu tio, após recobrar sua consciência. Ele voltava para casa, em São João do Piauí, de moto depois de uma festa quando tudo virou escuridão. O veículo saiu da estrada, despencou de um barranco e, no impacto, uma lesão raquimedular comprometeu suas vértebras T8 e T9. Josivaldo foi levado às pressas para o hospital em Floriano, a cerca de 250 km de Teresina, onde o diagnóstico se confirmou: o trauma havia tirado o movimento de suas pernas. Aos poucos, ele compreendia – a vida que conhecia tinha mudado para sempre.
O papel do CER na reabilitação
Após a internação em Teresina, Josivaldo deu início a uma nova etapa da sua trajetória no Centro Especializado em Reabilitação (CER II), em São João do Piauí. O primeiro contato com a unidade ele não esquece: “foi uma sensação incrível, bacana… aí eu falei, até comuniquei pra minha irmã: é aqui que vou recomeçar a minha vida”. E foi mesmo.
O CER II é mais do que uma estrutura de saúde – é um espaço de reconstrução. Localizado a mais de 450 quilômetros da capital do Piauí, em pleno semiárido piauiense, o centro oferece atendimento especializado em reabilitação física e visual. A unidade é referência para os 18 municípios que compõem o Território Serra da Capivara e funciona de segunda a sexta, das 8h às 17h. Ali, uma equipe multiprofissional acolhe pacientes com serviços que vão de oftalmologia a fisioterapia, passando por ortopedia, fonoaudiologia, psicologia, pedagogo, psicopedagoga, nutricionista, assistente social, enfermagem e educador físico.
Desde setembro de 2024, o CER II é gerido pela Sociedade Brasileira Caminho de Damasco (SBCD), em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi). A unidade pertence ao Governo do Estado do Piauí e integra a rede 100% pública do SUS, reafirmando o compromisso com o acesso universal e qualificado à saúde.

Hoje, Josivaldo celebra cada conquista – e não são poucas desde o início de sua reabilitação. “Eu não conseguia ficar sentado sozinho, e hoje eu me sento na cama sozinho, passo da cama pra cadeira sozinho. Tudo isso eu já pratico sozinho.” O acompanhamento na unidade começou em outubro de 2023, e desde então ele frequenta o espaço, no mínimo, duas vezes por semana. Morador do próprio município, realiza exercícios de alongamento, fortalecimento muscular e mobilidade, sempre acompanhado pela fisioterapeuta Percília Gomes e pelo educador físico Danilo Santos.
Possibilidade de voltar a andar graças ao CER
Aos 26 anos, Josivaldo, hoje estudante de Administração, carrega em si a esperança de, um dia, voltar a andar. A equipe médica que o acompanha em Teresina não descarta essa possibilidade — mas deixou claro: será um caminho longo, paciente e cheio de etapas. Ele entende o desafio e não se apressa. “Não posso me cobrar demais. Tenho que fazer a fisioterapia direitinho, estudar, ocupar a mente… Senão, começo a pensar em coisas que me fazem ter pressa. E esse processo é devagar mesmo. Tem que ir com cuidado, um passo de cada vez.”
Esse cuidado, aliás, é o que move o trabalho da equipe do CER II. “A equipe multidisciplinar é o coração da unidade”, afirma Mariana Rodrigues, coordenadora administrativa. Fisioterapeutas, educador físico, fonoaudiólogo, psicólogos, assistente social, médicos, pedagogo, psicopedagogo, nutricionista e enfermeiras atuam de forma integrada, desenvolvendo um plano terapêutico individualizado para cada paciente. “Essa abordagem nos permite olhar para o Josivaldo como um todo — não apenas para as limitações físicas, mas também para os impactos emocionais, sociais e cognitivos que fazem parte dessa nova realidade”, explica.
A CHEGADA DA MACA NO CER

Recentemente, a trajetória de Josivaldo ganhou um novo impulso com a introdução de um equipamento fundamental em sua rotina: a maca ortostática. Desde o dia 14 de março, ele passa por sessões semanais com o auxílio do aparelho, que permite a ele ficar em pé, ainda que de forma passiva. “É um equipamento que se inclina até a posição vertical, permitindo ao paciente experimentar a posição ortostática com segurança”, detalha Danilo Santos, educador físico.
Os benefícios vão além da postura: o uso contínuo ajuda no alongamento, na circulação, no fortalecimento muscular e até mesmo na estimulação cognitiva. “Nessa posição, o corpo envia novos sinais ao cérebro. É uma experiência potente para a reabilitação.” Josivaldo não esconde o impacto emocional da vivência. “Foi incrível. Uma sensação de recomeço, sabe? Como se eu estivesse voltando a caminhar novamente.”
Indicações Comuns para o Uso da Maca Ortostática:
- Lesões medulares
- Acidente Vascular Cerebral (AVC)
- Paralisia cerebral
- Esclerose múltipla
- Traumatismo cranioencefálico
- Doenças neuromusculares
- Pacientes acamados ou com mobilidade reduzida devido a diversas condições clínicas
- Reabilitação pós-cirúrgica (ortopédica, neurológica, abdominal, torácica

“O importante é a vida”
“Quando me disseram que eu ficaria assim, paraplégico, eu respirei fundo e pensei: o importante é a vida. Só de estar vivo, está bom demais. O resto, eu ia recuperar aos poucos” relembra Josivaldo, com o olhar firme de quem decidiu não se render.
Para a coordenadora administrativa do CER, histórias como a dele são o reflexo do impacto que o centro tem na vida de tantos pacientes. “O Centro Especializado em Reabilitação é essencial não só para o Josivaldo, mas para todos os que passam por aqui. É uma estrutura pensada para acolher de forma integral, não apenas tratar um sintoma.”
Segundo ela, o CER representa a chance real de resgatar funcionalidades, desenvolver novas habilidades, conquistar autonomia e melhorar a qualidade de vida. “A estrutura, os equipamentos, os espaços adaptados… tudo isso somado à dedicação e competência da equipe cria um ambiente onde a reabilitação é, de fato, possível. É um espaço de inclusão social, de reconstrução de vidas.”
Em resumo, o CER e sua equipe multidisciplinar representam um farol de esperança e um caminho concreto para a reabilitação e a reintegração de seus usuários.
E Josivaldo tem seus objetivos bem traçados. “Hoje, meu maior sonho é poder dar uma vida melhor para minha mãe, minha família, meus irmãos. E com fé em Deus, eu vou conseguir. Quero voltar a caminhar, quero ter um bom trabalho, uma vida estruturada… quero realizar esses sonhos todos.”
